-Acordei às seis da manhã, liguei o rádio, uma musica suave e animada fez me sair da cama. Preparei o meu pequeno almoço, ainda estava escuro lá fora e os meus olhos não estavam com vontade de abrir para perceber que embora andasse de pijama pela casa sem frio, lá fora, todos andavam bem agasalhados e o céu ameaçava com chuva, com a taça de cereais e os pés descalços, fui à varanda, cumprimentar o fato de surf e ver se tinha secado durante a noite que tinha sido congelante, estava frio, mas seco, pendurado pelo cabide preto nos suportes das cordas onde a minha mãe pendura as roupas molhadas da maquina de lavar. Peguei no fato pelo cabide e pendurei-o ao ombro para o levar para dentro, no chão ao pé da porta da varanda estava a minha mochila de praia, cheia de manchas sal e areia que revelam bem os cinco anos de surfadas que assistiu, arrumei o fato no saco e deixei a taça de cereais na cozinha, pelo caminho retirei um saco do pingo doce do monte de sacos que a minha mãe guarda com medo que qualquer dia seja preciso um e não exista, guardei-o na mochila. Pousei a mala no chão do quarto sem me preocupar com a quantidade de areia que irá deixar, vesti-me com as roupas que encontrei no chão da noite anterior, a cheirar mal e amarrotadas da noite anterior. Peguei na prancha de bodyboard e pés de pato e saí. Quando saí a porta do prédio senti o frio matinal, misturado com a humidade das chuvas da noite, olhei para o céu que parecia ter aberto um pouco, fui para o carro. O velho Polo, sujo e mal tratado pelos variados donos que teve, mas resistente, abrir o porta-bagagens para arrumar a tralha que trouxe de casa comigo, entrei no carro e arranquei. Fui para a marginal com o rádio ligado, ainda tocavam as musicas suaves e animadas com que acordei, o sol estava ainda a nascer mas já a marginal estava viva, muitas pessoas espreitavam curiosas para dentro do carro, que tinha a prancha no banco de trás, imaginando que sou louco para ir para a água com este frio, ou talvez invejando-me por puder ir para a água com este frio. Eu ia tentado não me distrair muito da estrada enquanto tentava perceber como estaria o mar olhando para as pequenas ondas que quebravam ao longo da estrada, percebi que iria estar bom, só não sabia se o vento estaria a cooperar para estar clássico, à medida que me ia aproximando da minha praia de eleição, Carcavelos, ia sentindo um pequeno tremer no estômago que me dá sempre que estou ansioso ou nervoso por algo. Passando por Carcavelos, vejo que as minhas melhores expectativas, confirmam-se. Apresso-me por chegar ao parque de estacionamento onde paro sempre, o que me obriga a percorrer a praia toda para chegar a uma rotunda onde volto para trás uns metros para estacionar, o parque onde paro normalmente, não tem muita gente no Inverno, e dá para ver bem toda a praia. O mar estava perfeito, sets de metrão, com um vento offshore que penteava e alisava as ondas, apenas cinco pessoas na água. Apressei-me a vestir o fato e enquanto despia a roupa abria o porta-bagagens, a pressa e ansiedade era tanta que as nem dava pela confusão que fazia para realizar estas tarefas rotineiras. Aqueci, corri, estiquei os músculos, tarefa que faço sempre com todo o esforço, pois já fui vária vezes castigado com duras cãibras por não levar o aquecimento a sério. Entrei. Corri para o mar levantando os pés bem alto, para não tropeçar nos pés de pato, como não prestei atenção a quando entravam os sets, claro que recebo como recompensa um dos maiores sets do dia enquanto tento passar a rebentação, quando chego ao outro lado o mar está calmo e pelo lineup apenas passam uns montes lisos e perfeitos que uns metros à frente se transformam numa rebentação cheia de espuma. Tento apanhar a primeira onda. Mal avisto o set espero pelo o monte com melhor aspecto, dou um patadas com os pés de pato e a onda pega em mim, sinto a força da onda e empurro a prancha para baixo de forma a deslizar a onda, quando chego ao bottom, faço força para encaixar um pouco acima do centro da onda, desacelero pondo o pé de pato dentro de água, o lip cai, quando reparo, já a onda vai lá à frente e eu estou dentro do tubo, ouço o ecoar da onda a rebentar e sinto o ar mais fresco, grito, a adrenalina é demasiada para o meu corpo a conter, lá à frente percebo que a onda vai fechar, faço peso na frente da prancha, que acelera e viro para fugir ao fechar da onda, é a primeira onda e o primeiro tubo, a primeira de muitas que se seguiram, tubos, rollos, 360º e aéreos.
-É a manhã perfeita, para mim, claro que pode ser melhorada e não é ambiciosa, podemos ter a namorada ao lado quando acordamos, podemos estar num pais tropical, ou viver numa casa num local inóspito, mas com o que tenho agora, as poucas manhãs que passei assim foram perfeitas...
a perfeição não é obrigatoriamente exigente.

Gérard CASTELLO LOPES
Carcavelos em 1956
P.S.: Não ficou muito bem escrito, acho que não consegui transmitir o que queria, mas daqui a uns textos pode ser que volte a descrever uma manhã perfeita.