sexta-feira, setembro 25, 2009

revoltas disparatadas...

Hoje vinha no metro a ouvir uma conversa que não era minha, como de costume. Os intervenientes dois gays que se vinham a queixar entre risos o difícil que tinha sido a adolescência deles. Eu percebo, foi difícil, acredito.
Hoje em dia é aceite que qualquer gay teve uma vida difícil, mas porquê? Porque qualquer gay chega aos vinte e de repente está rodeado por pessoas que tiveram a mesma experiencia que ele, a partir daí é palmadinhas nas costas, é o lobby, é ser cool, enfim... Tudo a que têm direito. Será que ainda há o direito de ter pena? Porque não há pena pelo único estudante com uma casa numa sala de aula da preparatória onde todos os outros moram em barracas, é fácil? É fácil ser educado com boas maneiras e preparado para estudar e se tornar num respeitoso cidadão, sair-se de casa na adolescência descobrir que no seu bairro é o único a receber esse tratamento? O que acham que acontece? Onde estão as palmadinhas nas costas para o único branco na turma do Dangerous Minds? Não há. Tudo corre bem, é hetero, tem algum dinheiro e um bom futuro o aguarda. Mais que este caso, que tal aquele que foge do seu próprio país para Europa esperando que tudo seja mais fácil, só para perceber que é um jogo diferente? E o outro que faz um filme na escola mas tem medo de o assinar porque alguém do outro lado do mundo pode vir atrás? Ou por e simplesmente o gay que nasce na Etiópia?
Estas não são as crianças que morrem à fome em África, os extremos não são o exemplo. Todas estas pessoas, viram os mesmos filmes que eu, leram os mesmos livros que eu e como resultado temos os mesmos sonhos que eu, sonhos quase frustrados mas que a vida tende em dar gota a gota para sentirmos que não há tempo suficiente, apenas para que no fim se perceba que afinal é tudo aleatório e ninguém sabe bem o que anda a fazer.
O rapaz da barraca que vinga na vida, é uma pessoa especial, precisa de ser acarinhado e ouvido quando chega ao topo, pois ele sabe bem como foi difícil e o que é preciso para o fazer, mas e a classe média? Não é rica, portanto nunca terá o berço de ouro que parece sempre tão bom mas que acaba sempre por estar repleto de espinhos, nem é pobre portanto não vai receber mais nada do que o cheque mensal e talvez um artigo na revista da empresa. A verdade é que quem lá está, cada vez há menos, leva por cima e por baixo, ou não tem poder suficiente ou teve mais oportunidades que todos os outros. Incrivelmente não há palmadinhas nas costas, não são ouvidos e os próprios tendem em esconder-se como resultado do que aprenderam ao longo da vida. Uma corda bamba que se movimenta com as marés de quem está por cima e treme com as ameaças de quem está por baixo.
Este é o sitio que conheço, provavelmente o único onde viverei bem, na sombra. Não tenho pena nem preciso de palmadinhas, mas temo que deste lugar apenas os próprios o consigam ver como é.

Melhor descrição que esta sobre o que penso é o discurso do Edward Norton no 25th Hour, em parte é nele que me baseio. Claro... não consegui dizer o que queria.

sexta-feira, setembro 18, 2009

mais de um ano...

Hoje fiz um post de um novo texto, escrevi-o em 31-01-2008, podem procurar.

Desde do dia que escrevi esse texto passaram-se algumas coisas, trabalhei, aprendi e até me apaixonei. Quando o escrevi achei que dali a um ano teria certezas, saberia para onde quero ir. Já lá vai mais de um ano e estou tão perdido quanto estava.
O estado das coisas é o mesmo, o sítio é outro. No início senti-me especial por estar a saltar para outro sítio, achei que não haviam muitos, agora percebo que muitos o fazem. Tenho os vindo a conhecer, praticamente todos partilham a mesma história que eu, queriam experimentar.
Mais que em Madrid, em Berlim todos os dias me cruzo com alguém novo que não é de cá. As razões variam, mas em muitos identifico-me, tento não ter preconceitos, é difícil, conhecer um Chinês, Iraniano, Indonésio, Romeno, Inglês e tantos outros, sem pensar na ideia que tenho formada na cabeça sobre como devem ser. Vêm de países com guerra, com poder ou por e simplesmente com culturas diferentes e inaceitáveis para mim. Depressa fico a perceber que raramente a ideia que tenho é a realidade deles, mas ao mesmo tempo não estou completamente errado. Os Chineses são de facto muitos, os Inglês bebem demasiado e os Iranianos protestam na rua contra o seu presidente, mas todos eles conhecem os mesmos livros, programas de televisão e momentos importantes no mundo, que eu conheço. Quando os conheço é como estar numa espécie de terreno neutro, como se estivesse no aeroporto, regras e protocolos muito próprios, todos os temas são abordados com cuidado na primeira vez, até que se encontre um sitio confortável onde tenhamos o mesmo conhecimento, a partir daí vamos explorando o que não se sabe, a cultura. Na parte da cultura é que se fica apanhado, um tema de vez em quando aborrecedor para quem responde, o que tem de especial eu achar que uma viagem de duas horas é uma grande viagem ou que estar atrasado em minha casa é chegar meia hora fora do tempo esperado? Para um Russo é uma novidade um sitio onde se vive assim, menos de mil quilómetros é mesmo ali ao lado e dez minutos de atraso é inaceitável.
A verdade é que isto de estar fora de casa é violento, da terra, ouve-se falar em amigos que compram casa, que assentam com as namoradas, que começam a trabalhar à séria, tudo parece bem, enquanto cá, tudo parece parado e nunca se sabe se esta foi uma boa ou má decisão.
À uns dias uma rapariga que vai para Austrália um ano perguntou-me se estaria a fazer bem em se ir divertir e trabalhar um ano fora quando sabe que tem de voltar para fazer o curso. O medo é que a viagem altere a sua perspectiva, quando voltar já não queira estudar o mesmo e que tenha adiado as obrigações tempo demais para as voltar a cumprir. Disse-lhe que tinha feito o mesmo e que me arrependia muito de não ter acabado o que tinha para acabar na altura devida, mas que se voltasse atrás, por enquanto, ainda achava que faria exactamente o mesmo, ficou tudo mais difícil mas o que pude levar comigo neste ultimo ano vale muito mais do que o esforço que tenho de fazer agora. Não sei quanto tempo esta minha teimosia irá durar, espero que sempre.

Parar de escrever, faz com que agora seja mais difícil articular as ideias... espero que melhore.