O que tenho a dizer? Muita coisa. O que vou dizer? Quase nada. Nestes vinte e quatro anos vivi como qualquer outro jovem adulto da minha idade, entre a MTV e os que nos tentam impingir que dantes tudo era pior que hoje, claro, com excepção das maneiras e tradições, o pudor e educação, as grandes figuras e os revolucionários.
A mim, tal como a muitos outros jovens adultos, tanto faz como tenha sido o passado, pois tal como os nossos pais, irmãos e mesmo futuros filhos, o mundo só começou a existir a partir do momento em que nascemos e a terra só se mexe onde nós estamos, tudo o resto é cenário. Claro que procuramos raízes, gostamos de saber de onde viemos e porque pensamos como pensamos se ninguém nos enfiou estas ideias estapafúrdias na cabeça, mas as peças nunca ligam muito bem. Por mais estranho que seja, a dificuldade em imaginar um mundo diferente do qual em que vivemos é grande.
Com simples exercícios mentais conseguimos logo perceber isto (pelo menos eu consigo, portanto imagino que seja fácil), reparem em algo que fazem todos os dias com o maior desprezo e tentem imaginar como alguém se lembrou disso, veram que dificilmente se lembrariam de algo semelhante tendo em conta a época em que essa acção começou a ser realizada, calçar as meias é um dos meus exemplos favoritos, não sei quem foi o primeiro, mas não acredito que tenha feito sentido para todos ao mesmo tempo. É uma observação parva, mas realista, tentem se abstrair do quão disparatado é.
Todos os dias acordo e há coisas que nunca deixei de ver, mas que no entanto para os meus pais e talvez até pessoas mais novas ainda é uma novidade. Aqui vão alguns exemplos, caixas Multibanco, televisão a cores, a Europa, relógios digitais e claro lojas que estão tão representadas em Portugal como em Nova York ou Paris, a lista não acaba por aqui (são as que me consegui lembrar em menos de um minuto). Para mim a mais flagrante é a caixa Multibanco, que é algo que não consigo imaginar não existir, mais ou menos como os Jackson 5 terem existido efectivamente e o Michael Jackson ser aquele miúdo pequeno, ou mesmo o Mário Soares ter sido novo em tempos, poupem-me!
Seja como o for, a vida dos jovens adultos de 24 anos acredito que não se faça do passado (especialmente porque ainda houve pouco tempo para isso, embora haja muito boa gente que já tenha feito as coisas mais relevantes na sua vida com esta idade), mas do futuro (mas que frase inspiradora!).
Especialmente em Portugal, quem tem a minha idade é o primeiro fruto de uma geração que começou a pensar com a Europa, para quem as fronteiras nunca fizeram muito sentido, pois o lógico é ligar todos os pontos de forma a que Portugal, América, China, Brasil, Rússia seja tudo uma questão de pontos geográficos mas não de distância. Tal como as gerações anteriores, iremos ser nós a mudar o mundo, pois o que nos permite pensar assim é a Europa, a educação, as oportunidades, os filmes, a publicidade, os cereais que como de manhã, o pingo doce, a mens health, a maxim, a surfportugal, a televisão, os jornais e toda aquela informação útil e fútil que se mistura na minha cabeça que nunca foi e provavelmente nunca irá ser filtrada.
Em suma vinte e três F.U.B.A.R. years! Que venha mais um.

Hoje talvez sejam o dobro dos copos...
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